segunda-feira, janeiro 18, 2016

QUANDO OS FILHOS VOAM… – POR RUBEM ALVES



Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho.
 Eu mesmo sempre os empurrei para fora.
Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.
Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira…Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo…
Existem muitos jeitos de voar. 
Até mesmo o vôo dos filhos ocorre por etapas. 
O desmame, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a primeira dormida fora de casa, a primeira viagem…
Desde o nascimento de nossos filhos temos a oportunidade de aprender sobre esse estranho movimento de ir e vir, segurar e soltar, acolher e libertar. 
Nem sempre percebemos que esses momentos tão singelos são pequenos ensinamentos sobre o exercício da liberdade.
Mas chega um momento em que a realidade bate à porta e escancara novas verdades difíceis de encarar. 
É o grito da independência, a força da vida em movimento, o poder do tempo que tudo transforma.
É quando nos damos conta de que nossos filhos cresceram e apesar de insistirmos em ocupar o lugar de destaque, eles sentem urgência de conquistar o mundo longe de nós.
É chegado então o tempo de recolher nossas asas. 
Aprender a abraçar à distância, comemorar vitórias das quais não participamos diretamente, apoiar decisões que caminham para longe.
 Isso é amor.

Muitas vezes, confundimos amor com dependência. 
Sentimos erroneamente que se nossos filhos voarem livres não nos amarão mais. 
Criamos situações desnecessárias para mostrar o quanto somos imprescindíveis. 
Fazemos questão de apontar alguma situação que demande um conselho ou uma orientação nossa, porque no fundo o que precisamos é sentir que ainda somos amados.
Muitas vezes confundimos amor com segurança. 
Por excesso de zelo ou proteção cortamos as asas de nossos filhos.
 Impedimos que eles busquem respostas próprias e vivam seus sonhos em vez dos nossos.
 Temos tanta certeza de que sabemos mais do que eles, que o porto seguro vira uma âncora que impede-os de navegar nas ondas de seu próprio destino.
Muitas vezes confundimos amor com apego.
 Ansiamos por congelar o tempo que tudo transforma. 
Ficamos grudados no medo de perder, evitando assim o fluxo natural da vida. 
Respiramos menos, pois não cabem em nosso corpo os ventos da mudança.
Aprendo que o amor nada tem a ver com apego, segurança ou dependência, embora tantas vezes eu me confunda. 
Não adianta querer que seja diferente: o amor é alado.
Aprendo que a vida é feita de constantes mortes cotidianas, lambuzadas de sabor doce e amargo. 
Cada fim venta um começo.
 Cada ponto final abre espaço para uma nova frase.
Aprendo que tudo passa menos o movimento. 
É nele que podemos pousar nosso descanso e nossa fé, porque ele é eterno.
Aprendo que existe uma criança em mim que ao ver meus filhos crescidos, se assustam por não saber o que fazer.
 Mas é muito melhor ser livre do que imprescindível.
Aprendo que é preciso ter coragem para voar e deixar voar.
E não há estrada mais bela do que essa.

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