segunda-feira, maio 09, 2011

Normose



Martha Medeiros

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?
Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

quinta-feira, maio 05, 2011

Filhos, ter ou não ter?



Por Keka Demétrio
Existe uma cobrança massacrante entre ter e não ter filhos. A sociedade cobra quem os tem, e cobra também quem não os tem. Se optou por ser mãe já começa a cobrança sobre a amamentação, como se amamentar mensurasse o tamanho do amor que sentimos por aquele pedaço de nós mesmas. Se a escolha foi não ter filhos somos tachadas de egoístas, frias e egocêntricas. Então, cada um com suas escolhas, arcando com suas renúncias e sendo feliz como preferir. 
Tenho o maior orgulho em dizer que sou mãe, mas mais orgulho ainda em dizer que não sou mãe cega, daquelas que nunca consegue enxergar os defeitos dos filhos, que passa a mão em suas cabeças sempre que fazem uma asneira, e que nem sempre os acho lindos e os mais inteligentes.
Meus filhos hoje são dois aborrecentes que ás vezes me tiram do sério, literalmente, me levando a colocar para fora uma Angélica que insisto que fique adormecida porque ela não é lá muito bacana. Só que tem horas, principalmente depois de inúmeras tentativas de diálogo que, ou eu coloco a fera pra comandar ou a estupidez adolescente me comanda. Confesso que em algumas vezes tenho mesmo é vontade de deixar para lá, que se dane, que continuem a fazer bobagem, só que o tal amor incondicional, insubstituível grita mais alto e meu instinto materno sobressai e lá vou eu para o ringue. E a luta não é nada fácil.
Sempre ouvi dizer que mãe é aquela que ama, cuida e educa, que se doa por completo para os filhos. Só não me disseram que o mundo havia mudado e que eu teria também que cuidar muito mais de mim, principalmente da minha cabeça, para que meus exemplos fossem absorvidos por eles de maneira que conseguissem soltar minha mão quando a vida os obrigasse a isso. Também não me contaram que eu teria que trabalhar 8, 10, 15 horas por dia para conseguir dar uma educação que os colocassem no mercado de trabalho e que com isso meu prazo junto a eles seria muito menor. Esqueceram de me dizer que eu teria que abdicar das minhas noites de sono quando eles fossem sair com a “galera”. E que por mais amor e dedicação que eu ofereça, por mais presente que eu me faça, por mais aberta ao diálogo que eu seja, a mãe da melhor amiga vai ser sempre por mais descolada. 
Nenhum amor é mais cheio de falhas e ao mesmo tempo mais completo que o de uma mãe para com suas crias. Nenhum beijo ou abraço é mais verdadeiro do que o de um filho. Nada nos consola mais do que o afago deles nas horas de tristeza, e somos tão bobas que recusamos esse gesto ao chorarmos escondidas para que eles não vejam nosso sofrimento e não sofram conosco. A diferença entre ser mãe e ser filho é que queremos para nós todo o sofrimentos que eles possam vir a ter, escolheríamos isso sem nem pensar se nos fosse possível. E isso não nos faria tristes, pelo contrário, nos deixariam felizes e com a sensação de dever cumprido. 
Assim como filhos não vem com manual de instruções, para ser mãe também não existem regras fixas, temos a todo o momento que nos moldarmos ao crescimento desses filhos que já estão chegando de olhos bem abertos. 
Amar nos dias de hoje não é mesmo muito fácil, até mesmo os filhos. Quando falamos que estamos cansadas e que naquele dia queremos ficar sozinhas, que gostaríamos que os filhos nos dessem um tempo, parece que estamos cometendo uma atrocidade, nos olham de cara feia como que nos dizendo que a vida vai nos castigar por estarmos agindo assim. As pessoas só esquecem que eles e nós somos seres humanos e, portanto, cheios de defeitos, mas que nem por isso deixamos de nutrir um amor incondicional por essas criaturas.

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