segunda-feira, maio 03, 2010



A saia da minha vizinha...


Incrível como a vida, as experiências, os tombos,
os "sapos" que acabamos engolindo sem querer,
nos ensinam a enxergar as coisas de outra maneira.

Eu era uma daquelas mulheres vazias,
que me importava com a combinação das almofadas,
com aquele arranjo de flores, com a louça do banheiro... 
Que me indignava com o "comprimento" da sai da minha vizinha,
que insistia, todos os dias, em sair pelas ruas,
deixando a homarada em polvorosa.

Como eu era medíocre ao sair por aí julgando "a" ou "b"
por suas vestes ou, pelo descuido com sua casa.

Nossa! Como iria receber meus amigos sem que a
casa estivesse impecável, sem um faqueiro de prata,
sem aqueles pratos pintados à mão?

Meu Deus, como eu era mesquinha, como a "saia da vizinha"
me incomodava, como o faqueiro era mais importante que minha 
vida, como julgava, como tratava meus amigos tão formalmente.

Falar palavrão? Era coisa de gentinha...
Eu só queria receber diplomatas e, ai de mim, se a piscina,
a churrasqueira e a sauna não estivessem funcionando.

Mas, um dia eu me vi numa UTI, toda entubada,
pelada, morrendo de frio, a vida indo prás cucuias por conta de
uma cirurgia no cérebro.

Naquele instante eu queria estar na rua,
observando a homarada boquiaberta olhar minha vizinha passar,
ver o sol, mandar o faqueiro para "aquele lugar".

EU QUERIA VIVER!

Mas, naquele momento, eu aprendia, então pensava:

- Minha vizinha está lá, andando com a saia curta,
sentindo o sol na pele, levando a vida do jeito que
ela gosta e eu aqui nesta cama...
Passei a vida inteira arrumando a casa e
julgando os outros e agora?

São estas as lembranças importantes da sua "grande" vida?

- O faqueiro, os pratos pintados, as taças de cristal,
as almofadas tão belamente arrumadas no sofá?

Eu jurei a mim mesma, naquele instante,
que nunca mais julgaria ninguém, que iria viver minha vida,
sentindo cada segundo do meu viver.

Que nunca mais iria me preocupar com a louça do banheiro,
com almofadas combinantes...

E que, a partir daquele instante, a minha
maior riqueza seriam MEUS AMIGOS, curti-los ao máximo.

E não importa como meus amigos se apresentam:
Alegres, tristes, solitários, cafajestes, esquerdistas,
direitistas, malucos ou, certinhos demais...

Por fim, também aprendi que não devo julgar aqueles
que ainda não levaram suas "porradas",
que saem por aí julgando os outros, com preconceitos idiotas,
os "certinhos", os "donos da verdade" pois, eu também já fui assim.

Enfim, hoje venho agradecer a Deus 
por cada segundo vivido,
pelo bom dia que distribuo e
pelo quanto aprendi com "a saia da minha vizinha",
que tanto me incomodava.

Cláudya Lessa 




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